Você sabia que já é possível tratar doenças dermatológicas com o Canabidiol em creme?
Diversas doenças dermatológicas são de difícil manejo a partir dos medicamentos tópicos comuns. Sintomas como prurido (coceira), dor e eritemas (vermelhidão) são queixas frequentes que, a depender do caso, não conseguem respostas eficazes aos medicamentos.
Ainda, a depender da classe medicamentosa, encontramos tratamentos dermatológicos que não são aplicáveis a grupos de pacientes específicos, como aqueles alérgicos a corticóides. Além disso, seu uso oral, altas dosagens e frequência do uso podem trazer efeitos colaterais indesejados, como aumento de peso, fadiga e astenia.
Diante disso, dermatologistas de todo o mundo buscam alternativas para esses tratamentos. Alguns deles, neste caminho, encontraram respaldo no uso do Canabidiol (CBD) – componente não psicoativo da planta Cannabis Sativa – para tratar dermatites diversas.
Estudo de revisão da Universidade de Connecticutt (USA) de 2021 sugere a possibilidade de uso de canabinóides no tratamento de câncer de pele, acne, psoríase, prurido, dermatite, esclerodermia, dermatomiosite, lúpus eritematoso cutâneo, epidermólise bolhosa, dor e cicatrização de feridas.
Atuação do CBD
Os receptores do Sistema Endocanabinóide (SEC) modulam importantes funções da pele. Atuam na regulação de interleucinas e quimiocinas ligadas a processos inflamatórios, assim como também nos queratinócitos e fibroblastos presentes na derme e epiderme. Além do amplo espectro de atuação no SEC, também atuam de maneira indireta em outros receptores, conforme imagem 1, abaixo:
Imagem 1: manifestação dos receptores endocanabinóides (CB1 e CB2) e outros de atuação indireta na modulação de funções da pele como os TRPV
Estudos pré-clínicos e in vitro demonstram extensamente a capacidade de absorção transdérmica do canabidiol, favorecendo seu uso tópico. Essa característica e seu amplo espectro de receptores, apontam para as capacidades de modulação realizada pelos canabinóides através de seu uso direto na pele.
Com destaque para o CBD, reúnem-se diversos artigos sobre sua atuação em processos anti-inflamatórios e de controle na proliferação exacerbada de queratinócitos, afetados em diversas doenças de pele, tais como na psoríase e da dermatite atópica.
Doenças Dermatológicas que podem ser tratadas com CBD
1) Acne 2,3,4,7
Sabe-se do caráter inibitório na lipogênse comum na doença, além de seu caráter anti-inflamatório que atua diretamente na redução da inflamação produzida pela acne. Comprovou-se também a atuação antibiótica de canabinóides contra bactérias que afetam a acne, como a da espécie Propionibacterium acnes, frequentemente encontrada na infecção da glândula sebácea acometedora da doença.
2) Psoríase 2,3,6
No tratamento com CBD, visa-se o controle da proliferação de queratinócitos a partir das suas ações redoxidativas e anti-inflamatórias.
Em artigo de revisão narrativa de 2022 que reúne 23 pesquisas que abordam a temática psoríase e canabidiol, aponta-se como muito promissora o uso de CBD para tratar psoríase leve e moderada. Como exemplo, citam estudo de 2022, duplo cego, randomizado e controlado por placebo, em 51 pacientes com psoríase em placas leve: os pacientes que usaram CBD pomada a 2,5% em lesões psoríticas apresentaram diminuição das lesões graves e maiores taxas de desaparecimento completo que o grupo controle.
3) Prurido 2,3,4,7
Estudos recentes apontam que a sensação de coceira também é modulada pelo Sistema Endocanabinóide, principalmente modulada pelos receptores CB1.
Em artigo de revisão de 2020 da Universidade de Chicago Illinois, são reunidos diversos estudos clínicos de uso do CBD para tratar o prurido. Em um deles, 12 pacientes foram administrados com um agonista de CBD sintético para avaliar os sintomas de coceira em pacientes. O grupo que recebeu o agonista do canabinóide apresentou significantes melhoras em comparação ao grupo controle.
Em outro estudo citado nesta revisão, o efeito anti-pruriginoso foi atestado em 63% dos pacientes em uso de CBD e nenhum efeito colateral foi encontrado. Ainda, em artigo de revisão da Universidade de Connecticut, além da melhoria na hidratação da pele e prurido, apontam-se estudos em que há redução de 86% da sensação de prurido.
1) Doenças Eczematosas 2,3,4,7
Além da redução de prurido já citada, artigos de revisão reúnem diversos artigos sobre a melhoria na xerodermia (pele seca), escoriações e eritemas. Parte dos testes clínicos utilizam do Palmitoylethanolamide (PEA), um agonista do CBD para simular as ações do composto canabinóide no tratamento das doenças.
Vale citar grande estudo em que 2456 pacientes com Dermatite de Contato foram avaliados em uso do creme com PEA, em que 60% das crianças obtiveram melhoria nas condições de pele e 62,5% delas melhoria na qualidade de sono devido a redução de prurido.
Considerações
Apesar dos estudos na área dermatológica ainda serem, em grande parte, primários, a terapia tópica com CBD já é vista como muito promissora e praticamente sem efeitos colaterais e por isso vem sendo cada vez mais utilizada.
REFERÊNCIAS
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